sexta-feira, 3 de novembro de 2006

HENRIQUE SIVA ou a sereníssima inactualidade


(…) “ Diria, então, que Henrique Silva, na aproximação que faz através da sua obra, é mais aparentado a essa outra tradição de que falei para trás, a de um exemplar realismo, e em particular a Morandi, do que aos desenvolvimentos que a sua geração buscou em outros media e em outras soluções plásticas. Sem por isso deixar de ser actual. Tanto mais paradoxalmente quanto cultivou, em labor de distanciada paciência (e nisso ele é credor de um certo morandismo) uma reiterada e sereníssima inactualidade.

É deste modo que os motivos do nu, das bibliotecas, dos interiores desabitados ou das próprias naturezas-mortas, a que o pintor volta uma e outra vez, ganham nesta pintura a densidade de um outro entendimento poético do tempo e do espaço, enaltecendo aspectos e contrastes de luz-cor que tão pouco caem no que seria da ordem de um anacronismo retrógrado, antes marcadas de sentido histórico.

Ao contrário, portanto, elas aparecem-nos — e tão mais nitidamente quanto um longo percurso as esclarece de um programa plástico coerente — motivadas pela reiteração de um valor intrínseco inerente ao próprio ofício da pintura, pela sua ilimitada crença nesse processo, e como tal dialogantes com as formas da dinâmica histórica como evocadoras da possibilidade de se fixar antes a pintura na contemplação daquilo a que George Kubler chamou outras "formas do tempo".

(…) Subtilmente, então, a pintura de Henrique Silva nos conduz para situações atmosféricas em que o tempo, mais do que se vê, se dá a sentir, pela presença de breves sinais que vão assinalando as formas da sua passagem. E desse modo também, nesta obra, o apelo a que o olhar se afunde nesse lento aflorar de uma natureza intrínseca do próprio tempo humano, no seu correr, faz-se precisamente pela quase desabitação dos espaços em que as cenas vão tendo lugar.

Como se, filosoficamente, o pintor e depois nós meditássemos no quanto somos, nós mesmos, apenas seres de tempo, vivendo tão só um breve instante cuja contemplação mereceria outra sageza. Apelo à sageza, então, e a uma certa sabedoria do inerte, ao mesmo tempo que sempre transportando-nos o olhar para uma contemplação sereníssima da densa materialidade das coisas”.

Bernardo Pinto de Almeida
Março 2006

quinta-feira, 2 de novembro de 2006

Henrique Silva- Objectos interactivos VI- Técnica mista- 50x47 cm-2004


Biblioteca- técnica mista- medidas várias-2006


A outra opção I- acrílico sobre tela-89x116 cm-2006


Nicho- acrílico sobre tela -116x89 cm-2006


Irak- acrílico sobre tela- 130x97 cm-2006


Floresta sangrenta-acrílico sobre tela- 97x130 cm-2006


Do lado de lá-acrílico sobre tela- 89x116 cm-2006


Bagdad- acrílico sobre tela - 130x97 cm-2006


A outra opção II-acrílico sobre tela- 89x116 cm-2006