sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

JAIME ISIDORO: "Subtracção da Paisagem"

Subtracção da Paisagem

Todas as exposições têm uma história e a desta exposição vale a pena ser contada.
Em 2007 Jaime Isidoro instalou-se em Vila Nova de Cerveira, terra a que o ligam trabalhos importantes não só da sua vida, mas da vida das artes em Portugal. Há naquela vila uma casa que tem o seu nome e foi nessa casa que passou o Verão a pintar. Não exactamente para aproveitar a luz e os dias longos, porque o acto de pintar para Jaime Isidoro é um acto nocturno e por isso a sua luz é inventada, nasce com a pintura, vem da matéria e da cor que utiliza. Um dia deslocou-se a Vigo para comprar telas; saiu uma, e outra vez, porque as telas não chegavam. Comprou tantas quantas esta exposição apresenta (ou quase) e o que fez foi arranjar mais um pretexto para adiar o desfecho da pintura.

Jaime Isidoro começou por ser paisagista porque essa era a condição que o tempo e a sua iniciação determinavam. Mas o tempo não parou e Jaime Isidoro acelerou-o sempre que pôde, introduzindo no seu trabalho valores e preocupações de outros tempos e de outros lugares. Foi o que aconteceu com a série agora apresentada – “subtracção da paisagem”. Subtraída, traída, usurpada, raptada, a paisagem persiste, lá por detrás das sucessivas camadas de pintura; persiste remotamente, no percurso do artista; ou mais longe ainda, na história da arte.
Tal como o título da exposição nos obriga a recuar até ao tempo da paisagem, também estas pequenas telas nos fazem recuar, camada a camada até ao início de um processo que, deste modo, se expõe. O nosso andamento, enquanto espectadores, será sempre retrospectivo, procurará sempre recuperar os gestos de um pintor no momento da execução. Para isso, Jaime Isidoro facilita-nos a vida, encaminha o nosso olhar como um conservador-restaurador que se debruçasse cuidadosamente sobre a obra para a radiografar e descobrir, pela devida ordem, os estratos de pintura.
Tudo fica inscrito na superfície, geneticamente inscrito: a programação das obras, o procedimento de trabalho, o código do artista que pode ser aquela breve mancha vermelha a que repetidamente recorre; o movimento da grande espátula que actua em pequenas telas; o desprendimento de um pintor que deixa escorrer a tinta até ela parar, como se a decisão coubesse à própria tinta; o domínio de um gesto, mas só o suficiente para deixar espaço à expressão da matéria; a presença de uma marca estrutural muito forte, traduzida nos quadrados cinzentos e na composição de manchas que não os recobre completamente; os valores tangíveis, sensoriais e sensuais.

É possível que esta série de pinturas exija uma exposição para ser bem apreciada e é também possível que, quando as obras se dispersarem pelos coleccionadores, percam qualidades que só na galeria, com o alinhamento que lhe dispensaram, têm sentido. Refiro-me, principalmente, a este sentido rítmico que a montagem lhe confere, a esta espécie de escala feita de cores, tons e meios-tons. Mas esse é o destino de toda a obra de arte que se investe de novos significados conforme o lugar em que nos é apresentada. Depois da exposição, cada tela ecoará como nota isolada de uma composição mais vasta, mas ficará extraviada, perdida do seu todo. Resta-nos a satisfação dos registos fotográficos que documentam a vizinhança e a cadência musical destas telas, e nos recordam o prazer da sua contemplação.

Laura Castro

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Sem título-acrílico sobre tela-24x19 cm-2007


Sem Título-acrílico sobre tela-89x126 cm-2007


Sem Título-acrílico sobre tela-27x22 cm-2007


Sem Título-acrílico sobre tela-27x22 cm-2007


Sem Título-acrílico sobre tela-27x22 cm-2007


Sem Título-acrílico sobre tela-27x22 cm-2007


Sem Título-acrílico sobre tela-27x22 cm-2007


Sem Título-acrílico sobre tela-24x19 cm-2007


Sem Título-acrílico sobre tela-24x19 cm-2007


Sem Título-acrílico sobre tela-22x27 cm-2007


Sem Título-acrílico sobre tela-22x27 cm-2007


Vista geral