quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Process
Hugo Paquete tem vindo a desenvolver uma pesquisa dentro dos novos media recorrendo a diferentes meios técnicos para desenvolver um conjunto de conceitos que passam por relações espaçais, objectuais e sonoras desmantelando os processos de percepção visual e auditiva, desdobrando o entendimento que temos da realidade linguística, espacial, e fenomenológica da sociedade dos média e a forma como nos manipula as noções de tempo e espaço. Seguindo estes princípios as pesquisas que tem vindo a desenvolver partem constantemente de uma base fenomenológica que pretende analisar, uma imagem, uma situação, um som, a recriação de uma experiencia de lugar e sua reconstrução com base na simulação, debruçando-se num conjunto de meios técnicos que permitam desconstruir a lógica destas experiencias pela utilização da tecnologia como simulacro da percepção e da existência. Existe desta forma uma abordagem racionalizante no desenvolvimento do trabalho que comporta o objectivo de fragmentar estruturas temporais na construção visual, sonora e perceptiva, fazendo com que um organograma conceptual seja o dispositivo construtor da lógica desfragmentada, não linear.
O conjunto de trabalhos aqui apresentados situam-se nas práticas processuais que o artista tem vindo a desenvolver sobre a percepção dos média e a sua manipulação recorrendo a diferentes meios técnicos como o vídeo, fotografia, som, instalação, desenho e objectos. O objecto de análise transforma-se em material, objecto de experimentação, existindo desta forma uma auto-reflexividade entre representação e representado um jogo de análise mútua. Estando algumas destas pesquisas aqui apresentadas enquadradas numa prática do desenho enquanto acção, intervenção espacial e dinamizador de tridimensionalidade, sendo estas obras elementos de documentação dos processos de análise e lógica construtiva do artista. O material apresentado nesta exposição caracteriza-se por experiencias visuais e sonoras tendo como referente fitas magnéticas que comportam milhares de imagens e sons provenientes de uma recolha de diferentes materiais audiovisuais, construindo desta forma uma desfragmentação da lógica narrativa implícita no material construtivo da obra e da sua função, efectuando um distanciamento narrativo transformando-se num elemento puramente objectual, encerrando um ciclo que fecha a representação numa lógica entre material, concretização visual, representação e representado, podendo-se observar este conceito nas obras apresentadas com o título: black magnetic tape (the anti-film project). Nestas obras existe um posicionamento conceptual que desconstrói a linearidade da narrativa cinematográfica deixando unicamente o material de suporte de registo dessa acção, abordando o material numa perspectiva em potência que nunca chega a ser concretizada sobre os parâmetros convencionais. É interessante referir que nesta abordagem o artista posiciona-se no limite da representação questionando a representação da figuração e a narrativa visual fechada proveniente da arte figurativa e utilizada nas lógicas do cinema, existe um debruçar conceptual sobre o valor da imagem, a sua apreensão e o seu valor iconográfico. Os dois trabalhos vídeo apresentados descrevem uma acção temporal na busca de uma representação visual definitiva que nunca acaba por acontecer ficando unicamente este espaço de acção, sendo ele mesmo uma concretização de um tempo de pesquisa visual. Um dos factores principais desta experimentação retêm-se na temporalidade da acção e na alteração da linearidade do tempo. Na edição do vídeo existe um momento em que a acção inverte a sua temporalidade conciliando com este factor dois momentos distintos na temporalidade, um tempo real e um outro simulado, elemento este que se encontra dissimulado, sendo dinamizador de conceitos provenientes da alteração perceptiva inerente à média. A imagem é a mais concreta possível para fundamentar-se como um elemento fora do exotismo das múltiplas narrativas interpretativas seja por contexto cultural ou estético. Estas obras vídeo como outros dos trabalhos apresentados pretendem um envolvimento reflexivo do receptor com a obra, necessitam da construção de um tempo do ver, sendo esta exigência um ponto de ruptura com a compreensão das propostas conceptuais deste artista porque os dados que nos são atribuídos para a leitura da obra comportam um racionalismo oculto e a objectividade das suas imagens corrompem os posicionamentos mais iconográficos da arte, este é o factor interessante na sua pesquisa, explorar a percepção enquanto experiencia flutuante que enquadra uma cultura social e visual com um conjunto de códigos psicológicos que o artista tende a reconfigura-los.
Como o Hugo Paquete menciona “da lógica partimos para o abstracto”.
Outra das obras apresentadas Drawing é um conjunto de descrições áudio de experiencias conceptuais abordando problemáticas da representação havendo neste conjunto de experiências um deslizamento que tende para uma abordagem do pensamento enquanto fenómeno descritivo e puro da acção artística, uma representatividade concreta construindo desta forma um espaço menos exótico e impermeável das múltiplas interpretações. Tendo sido esta pesquisa desenvolvida e gravada em tempo real sem recurso a nenhum texto, é fundamentalmente um registo concreto do vaguear deambulatório da construção conceptual e visual de uma experiência relacionada com o acto específico da representação. Estando nesta pesquisa também muito presente o factor tempo relativo a reflexão efectuada tempo esse que nos projecta para uma universo de imagens e para o interior de uma mecânica de pensamento e intervenção sobre a realidade. Reflectindo todo o universo da construção das imagens e seus processos.
A obra de Hugo Paquete está repleta de um nível de ocultamento e estratégias de revelação onde o tempo é essencial para a percepção de um todo visual que foi sendo submetido conceptualmente a um desmantelamento nivelador em busca dos limites da representação. Nos limites de uma objectividade conceptual. Em suma as suas pesquisas e o seu posicionamento na arte recortam o estabelecido deixando um espaço onde a lógica constrói limites e tenções baseadas numa metodologia delicada de simulações, recriações, desacelerações, reflectindo sobre os limites da arte e da vida e a forma como percepcionamos o mundo e nos esvaziamos sobre suas premissas.

HUGO PAQUETE-"Process"