sexta-feira, 10 de março de 2006

AUGUSTO CANEDO: "As minhas Fatuchas"

" O Corpo entre o sagrado e o profano

Ao observar este conjunto de trabalhos duas ideias sobressaem. O facto de se tratar da representação de corpos femininos, ou da figura feminina em pose de modelo nu e dessa representação sugerir dois níveis distintos de significação.
De um lado, o corpo imagem do corpo, a questão da sua representação, o conceito de corporeidade do feminino, estereótipo de perfeição física e o peso que essa figuração desfruta no âmbito da história da arte e da cultura ocidental.
Do outro, a imagem de um corpo espírito, do corpo santo, intocável, virgem, estereótipo de perfeição moral, a imagem da mãe de Cristo, imaculada e livre de pecado.
Duas séries, todos desenhos sobre papel, foram desenvolvidas por Augusto Canedo para o espaço da Galeria Alvarez.
O primeiro apresenta figuras femininas em diferentes poses académicas de modelo nu (208x100); o segundo é constituído por um núcleo de retratos ficcionados onde foram introduzidos elementos que pretendem sublinhar o carácter religioso da figuração: pregos, brilhantes, rosas de papel e pequenas lâmpadas (90x74).
Estas duas séries são complementadas por dois estandartes de flores decorativas, semelhantes aos realizados para as procissões de carácter religioso ou que enfeitam muitos dos altares de santos em Igrejas de paróquia.
Este confronto pretende questionar o significado desta representação à luz da cultura pós-moderna, onde a repetição das imagens, a sua massificação visual e mercantilista, a constatação do estereótipo – são todas Marias de Fátima identificadas com um monograma impresso sob a forma de carimbo – se mescla num enredo de memórias de imagens religiosas populares e imagens fotográficas de mulheres, abundantes em revistas quotidianas, sublinhadas pela busca de referentes físicos que acentuam a conotação religiosa de algumas das figurações. "(...)
Ana Luísa Barão
Coimbra, 22 Fevereiro 2006

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